segunda-feira, 16 de julho de 2012

Trigésimo Primeiro Quadro de Quarenta - PROCISSÃO NO CONTESTADO

Nome do quadro: Procissão no contestado A Guerra do Contestado foi a repetição da Guerra dos Canudos: uma guerra sem razão. Por que atacar aqueles pobres camponeses? As duas guerras se explicam pela existência de dois Brasis, distintos e incomunicáveis: o Brasil das elites urbanas e o dos miseráveis esquecidos. O século 20 terminou e os dois Brasis continuam a não se olhar e entender. João Maria continua vivo na alma dos pobres que o invocam e dele recebem muitas graças. São sagrados os lugares por onde passou. Em 1907, teve início a construção da estrada-de-ferro São Paulo-Rio Grande. Atravessava Santa Catarina numa área oprimida por coronéis rurais e centro de uma disputa de limites entre o PR e SC. Por isso o conflito recebeu o nome de "Contestado". Para complicar a situação, o governo cedeu à empresa construtora da ferrovia 15 km de terra nos dois lados dos trilhos, desconsiderando os moradores e declarando nulos os títulos de posse. Os que vieram de fora para trabalhar na construção alteraram o perfil humano, favorecendo o banditismo e a corrupção de costumes. Freqüente era a passagem de monges e beatos pelo sertão catarinense: percorriam as estradas que levavam de São Paulo ao Rio Grande, passando por Lages. Eram conselheiros, plantavam cruzes, benziam, davam receitas, organizavam novenas. O povo, mal assistido religiosamente, os recebia como santos e sacerdotes. João Maria de Jesus, é um deles. Surgido depois de 1890, será o mais famoso, pois esteve envolvido na guerra do Contestado. Ele organizou uma comunidade religiosa que reagiu contra a situação de injustiça vigente no meio-oeste catarinense. O primeiro ato praticado pelos revoltosos era a queima dos cartórios, em protesto contra as escrituras que davam a outros as terras deles roubadas. Simbolizava também a negação da necessidade de qualquer documento na nova comunidade. João Maria estruturou uma vida comunitária com locais de culto, procissões... Tudo pertencia a todos e nada podia ser vendido, apenas trocado. Pregava-se o milenarismo: o mundo não duraria mais 1000 anos e o paraíso estava próximo. Ninguém tinha medo de morrer, pois ressuscitaria após o combate final. Para o governo, João Maria organizou uma escolta de 24 caboclos, os Doze Pares de França. Mulheres desempenhavam um papel muito importante, dando-se grande valor à virgindade. Os redutos sertanejos compreendiam mais de 20 mil pessoas, das quais 8 mil preparadas militar e religiosamente para o combate. Diante da situação, os coronéis se desentendem e explode uma guerra violenta que durou de 1912 a 1916, envolvendo 6 mil soldados, mil vaqueanos e deixando o saldo trágico de 3 mil mortos. Até avião foi utilizado. Os caboclos não estavam preocupados com os limites do PR e SC, devido a uma região contestada, mas queriam viver com justiça. No bilhete de um caboclo estava escrito: "Nós tratava de nossas devoções e nem matava e nem roubava, mas veio o governo da República e tocou os filho brasilêro dos terrenos que pertencia à Nação e vendeu tudo para os estrangeiro. Nóis agora estamos disposto a fazer prevalecer nossos dereitos..." O Contestado foi uma das mais cruéis guerras acontecidas no Brasil, envolvendo um caldeirão de motivações: religião, política, grilagem, desemprego, banditismo, miséria, enfim, como em Canudos, o povo pobre que queria viver. Em cinco anos de guerra, 9 mil casas foram queimadas e 20 mil pessoas mortas.

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