quinta-feira, 19 de julho de 2012

Trigésimo Sexto Quadro de Quartenta - A SAGA DO CONTESTADO

Nome do Qaudro- A SAGA DO CONTESTADO Assassinos a serviço do governo A etapa mais sangrenta da Guerra do Contestado toma corpo e alma na região de Canoinhas, a partir do final de 1914. Correndo em paralelo com as habituais investidas dos bandoleiros e dos fanáticos, em busca de alimentos ou procurando defender-se, a região é atravessada por bandidos profissionais, que se agregam às tropas do governo como vaqueanos, com o intuito exclusivo de exercer vinganças pessoais ou de servir como matadores profissionais para os proprietários das terras arrebatadas dos posseiros, que posteriormente se haviam incorporado aos fanáticos em armas. Esses facínoras fazem parte do grupo que obedece às ordens de Manoel Fabrício Vieira. Armados com carabinas de guerra, como a metralhadora Mauser, eles também aparecem como apaziguadores todas as vezes que acontece um ataque aos fanáticos. Um dos mais conhecidos entre os bandidos profissionais é Pedro Ruivo, “um celerado vaqueano promovido a herói”. O bandido Pedro Ruivo agia do mesmo modo que os outros comandantes de piquetes, como Manoel Fabrício Vieira, Salvador Pinheiro, Pedro Vieira, Leocádio Pacheco e João Alves de Oliveira, que sempre atacavam em duas frentes: como bandido profissional, a matar desafetos, e como vaqueano, a serviço das tropas legalistas. Como legalista, Pedro Ruivo estava encarregado de dar fim aos prisioneiros suspeitos ou àqueles que se entregavam voluntariamente sem apresentar uma razão convincente do seu gesto de desespero. Para cumprir com a sua tarefa escabrosa, Pedro Ruivo conduzia as vítimas para fora da cidade e degolava culpados e suspeitos. Os corpos permaneciam insepultos. Só nesse trabalho, o assassino profissional teria “refrescado” uma centena de vítimas. Em outras ocasiões, integrando piquetes de civis, o serial-killer assassinava desafetos que nunca haviam sido fanáticos. Terminada a guerra, Pedro Ruivo transferiu-se para a cidade da Lapa e terminou seus dias como um homem bastante rico.

Trigésimo Quinto Quadro de Quarenta - MONJE JOÃO MARIA DE JESUS

Nome do quadro: O segundo monge – joão maria de jesus O segundo monge adotou o codinome (alcunha) de João Maria,[2] mas seu verdadeiro nome era Atanás Marcaf, provavelmente de origem síria. Aparece publicamente com a Revolução Federalista de 1893, mostrando uma postura firme e uma posição messiânica. Sobre sua situação política, dizia ele "estou do lado dos que sofrem"[1]. Chegou, inclusive, a fazer previsões sobre os fatos políticos da sua época. Atuava na região entre os rios Iguaçu e Uruguai. É de destacar a sua influência inquestionável sobre os crentes, a ponto de estes esperarem a sua volta através da ressurreição, após seu desaparecimento em 1908. O segundo monge, João Maria de Jesus, surgiu também misteriosamente, no Paraná e Santa Catarina, tendo vivido entre os anos de 1886 e 1908, havendo, na ocasião, uma identificação com o primeiro, de quem utilizava os mesmos métodos, com curas por ervas, conselhos e água de fontes. Acredita-se que seu verdadeiro nome é Atanás Marcaf. Em 1897, diria: "Eu nasci no mar, criei-me em Buenos Aires e faz onze anos que tive um sonho, percebendo nele claramente que devia caminhar pelo mundo durante quatorze anos, sem comer carne nas quartas-feiras, sextas-feiras e sábados, sem pousar na casa de outros. Vi-o claramente[1]". Há controvérsias sobre seu desaparecimento, segundo alguns historiadores, ocorrido por volta de 1900, e segundo outros por volta de 1907 ou 1908. A semelhança entre os dois primeiros monges é tão grande que o povo os considerava um só. Num dos seus retratos da época há a legenda “João Maria de Jesus, profeta com 188 anos[2]” Entre 1895 e 1908, um segundo monge percorreria a mesma região. Como Agostinho, João Maria de Jesus logo ficou conhecido por causa de suas curas. Costumava conversar com as pessoas, indicava medicamentos, batizava as crianças e transmitia seus mandamentos, como, por exemplo: “Quem descasca a cintura das árvores para secá-las também vai encurtando sua vida. A árvore é quase bicho, e bicho é quase gente.” Ou ainda: “Quem não sabe ler o livro da natureza é analfabeto de Deus”. Durante a Revolução Federalista (1893-1895), João Maria visitava acampamentos dos revoltosos e fazia críticas à República, anunciando calamidades e sofrimentos. Angelo Dourado, médico e coronel federalista, registrou um encontro com o monge, ocorrido em 1894: “Quando proclamaram a república, ele anunciara por onde passara grandes calamidades e para preservarem-se dela plantassem cruzes nas portas. Que haviam de matar e roubar, porque todos estes teriam em si o diabo. Depois esses crimes trariam uma guerra cruel, sem quartel. Que animados pelo diabo teriam forças e dinheiro, mas que os outros venceriam mesmo sem armas”. Ainda de acordo com São João Maria, esta nova guerra seria precedida de muitos “castigos de Deus”, como praga de gafanhotos, cobras ou chagas: “Vai vir um tempo onde haverá muito pasto, mas pouco rastro”.

Trigésimo Quarto Quadro de Quarenta - MONGE JOÃO MARIA D"AGOSTINI

Nome do quadro: O primeiro monge – joão maria d’agostini A região do Contestado foi largamente percorrida por dois monges, de 1845 a 1908. O primeiro se chamava João Maria D’Agostini, era italiano de origem. Benzia, curava e não fazia ajuntamento de pessoas nem dormia na casa de ninguém. Veneradíssimo batizou milhares de moradores do sul do Brasil. Desapareceu por volta de 1890. O primeiro deles, o monge Giovanni "João" Maria D'Agostini, era imigrante italiano e residiu em Sorocaba (São Paulo), mudando-se em seguida para o Rio Grande do Sul, onde viveu entre os anos de 1844 e 1848 nas cidades de Candelária, no morro do Botucaraí, e Santa Maria, no Campestre. Introduziu nessa região o culto a Santo Antão, que é considerado o “pai de todos os monges”, cuja festa continua até os dias atuais, comemorada em 17 de janeiro. A região do Campestre passou a ser chamada, desde então, de Campestre de Santo Antão. Sua prisão foi decretada em 1848, pelo General Francisco José d’Andréa (Barão de Caçapava), mediante o temor de levantes e concentrações populares que começavam a ser comuns naquela região, ficando o monge foi proibido de voltar ao Rio Grande do Sul. Refugiou-se na Ilha do Arvoredo (SC), depois em Lapa (PR), na serra do Monge, e em Lages (SC), desaparecendo misteriosamente em seguida. Os historiadores defendem que o monge João Maria morreu em Sorocaba, em 1870. Mas em Santa Catarina há histórias que ele morreu no Morro do Taió, município de Santa Teresinha. Contam pessoas da região que João Maria dizia ser o Morro do Taió um lugar santo, o próprio paraíso, e que lá não seria necessário trabalhar, e lá gostaria de morrer. Vindo da Itália para o Brasil em 1844, João Maria de Agostinho logo fixou residência em Sorocaba, no interior de São Paulo. Anos mais tarde, passou pelo Rio Grande do Sul, por Santa Catarina e pelo Paraná realizando curas valendo-se de fontes de água que o povo acabaria considerando santificadas. Adquiriu enorme fama entre a população que vivia próxima ao caminho das tropas, permanecendo na Região Sul até pelo menos 1870. Levava uma vida humilde e ascética, fazendo penitências, dirigindo orações e receitando ervas.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Trigésimo Terceiro Quadro de Quarenta - ENCONTRO ENTRE MARIA ROSA E MATOS COSTA

Nome do quadro: ENCONTRO ENTRE MARIA ROSA E MATOS COSTA A virgem Maria Rosa é a personagem feminina de maior destaque do tempo dos redutos. A ela, são atribuídas qualidades excepcionais enquanto vidente e comandante. Dificilmente alguém fazia algo sem antes consultar "quem tudo sabia". No Museu Histórico e Antropológico do Contestado de Caçador(SC), ao lado de um manequim que representa Maria Rosa, encontram-se registros afirmando que Maria Rosa, no reduto de Caraguatá, chegou a ter sob seu comando 5.000 sertanejos armados. Filha de um lavrador de Serra da Esperança, chamado Elias de Souza ou Eliasinho da Serra como era conhecido, Maria Rosa, em situação idêntica ao que fez Teodora, ordenou a mudança para Caraguatá. Adolescente inteligente, simpática e de bastante carisma, destacava-se falando com desembaraço. Geralmente recebia as ordens de José Maria trancada num quarto escuro. Transformava-se nos momentos de variação. Escreve Vinhas de Queirós que o povo obedecia cegamente às ordens de Maria Rosa. "Era encarada como a representante da vontade do monge, de quem conhecia os secretos desejos. Designava os chefes ostensivos, destituía-os dos comandos, sentenciava". É atribuída a Maria Rosa a autoria de um documento onde constava a nomeação de Henrique Wolland comandante dos Pares de França de São Sebastião. Em Bom Sossego, Maria Rosa ainda desfrutou de seu prestígio por mais algum tempo. Para muitos, quando Maria Rosa deixou de ser ouvida, o movimento tomou outros rumos. A visita secreta de Matos Costa a Bom Sossego teria conseqüência imediata a ascensão de Francisco Alonço de Souza ao comando geral e a queda irreversível de Maria Rosa. Começava o tempo dos comandantes gerais. Surgiram assim, os chefes aguerridos e Maria Rosa perdia de vez o prestígio. Contrariada, assumiu um papel secundário, atendendo principalmente crianças, mulheres, doentes e pessoas que estavam lá por sua causa. Vinhas de Queirós fala de conflitos dentro do reduto, onde Maria Rosa era a principal representante dos vacilantes. Vacilantes ou como preferiu chamar Felippe: moderados. Por outro lado, Elias de Morais liderava os belicosos. Estas facções internas, provocaram celeumas nos redutos, principalmente durante a queda de Maria Rosa e na sucessão, após a morte de Francisco Alonço de Souza. É possível que os manifestos do General Setembrino fossem dirigidos para alvos calculados. O fim de Maria Rosa foi igual ao de muitos daqueles que a admiravam. Segundo Felippe, foi durante o avanço de Potiguara no Vale do Timbozinho, em direção a Santa Maria. Maria Rosa recusou-se a abandonar o reduto para fugir, "deve ter morrido, ficando confundida entre os inúmeros cadáveres que ninguém se importava em identificar" (Vinhas de Queirós, 1981, p. 270). Passou para o lado do exército encantado de José Maria, fazendo parte da solene corte celeste que povoava a imaginação dos sertanejos. Apesar da atuação do Capitão João Teixeira de Matos Costa em favor dos caboclos, ele foi morto na Estação de São João dos Porcos, em 1913, pelos próprios caboclos.

Trigésimo Segundo Quadro de Quarenta - CHICA PELEGA NOS BRAÇOS DA MÃE

Nome do quadro: CHICA PELEGA NOS BRAÇOS DA MÃE Na história da Guerra do Contestado Chica Pelega representou coragem como uma águia, valentia como um São Bernardo, bravura e solidariedade. Ela cuidava de velhos, crianças, doentes e amava os animais. Sua morte aconteceu quando uma igreja foi incendiada. Havia muitas pessoas lá dentro. Chica morreu lá fora, lutando bravamente. Depois das granadas, quando tudo silenciou, ouviu-se uma voz cantando cantigas de ninar. Tratava-se da mãe de Chica com a filha morta nos braços. A mulher enlouqueceu ante o cadáver da filha. Chica Pelega é pouco citada nos livros e para muitos nem existiu, Segundo Felippe, o que descreveu sobre Chica em sua obra "O Último Jagunço", é baseado em depoimentos de testemunhas oculares. Na memória de muitos sertanejos, Chica Pelega é uma heroína dos sertões, dividindo espaços com a também admirada virgem Maria Rosa, de quem há muitas recordações. Euclides Felippe descreve Chica Pelega como a heroína de Taquaruçu: "Coração compassivo e generoso, logo ao chegar em Taquaruçu, atraiu todas as simpatias, principalmente das crianças e dos enfermos. Assim de imediato chamou a atenção de José Maria, indo aos poucos tornando-se indispensável auxiliar de enfermagem. Em breve aprendeu lidar com os chás, as infusões, o conhecimento e o trato com as ervas medicinais". Os pais de Chica haviam sido peões de fazenda no Rio Grande do Sul. Estabeleceram-se próximo à Estação de Limeira, hoje Joaçaba, onde o pai de Chica Pelega foi assassinado pelo corpo de segurança da Lumber. Francisca e sua mãe, dona Chiquinha, fugiram do local e, juntamente com outros ex-trabalhadores da estrada de ferro, ficaram sem ter para onde ir. A chegada de Chica Pelega e o grupo remanescente do Irani à cidade Santa de Taquaruçu foi cheia de entusiasmo, muitas novidades, muitas façanhas de Banhado Grande. Chica Pelega assumiu papel de destaque, admirada por todos. No primeiro ataque a Taquaruçu, Chica Pelega toma parte, montada em seu cavalo, empunhando a bandeira branca de cruz verde ao centro, infundindo ânimo e coragem aos sertanejos. A retirada das forças é a coroação da vitória e a euforia foi contagiante. Com a transferência do reduto para Caraguatá, em Taquaruçu permaneceram muitas crianças, velhos e enfermos. Chica Pelega também ficou, ajudando a atendê-los. Não acreditavam que as forças oficiais atacassem o reduto desguarnecido. Mas o inesperado ocorreu no dia 8 de fevereiro de 1914. O bombardeio provocou estragos. Granadas explosivas, metralhadoras e obuses demoliram, incendiaram e mataram. Estava destruída a cidade santa.

Detalhes do Quadro PROCISSÃO NO CONTESTADO

Trigésimo Primeiro Quadro de Quarenta - PROCISSÃO NO CONTESTADO

Nome do quadro: Procissão no contestado A Guerra do Contestado foi a repetição da Guerra dos Canudos: uma guerra sem razão. Por que atacar aqueles pobres camponeses? As duas guerras se explicam pela existência de dois Brasis, distintos e incomunicáveis: o Brasil das elites urbanas e o dos miseráveis esquecidos. O século 20 terminou e os dois Brasis continuam a não se olhar e entender. João Maria continua vivo na alma dos pobres que o invocam e dele recebem muitas graças. São sagrados os lugares por onde passou. Em 1907, teve início a construção da estrada-de-ferro São Paulo-Rio Grande. Atravessava Santa Catarina numa área oprimida por coronéis rurais e centro de uma disputa de limites entre o PR e SC. Por isso o conflito recebeu o nome de "Contestado". Para complicar a situação, o governo cedeu à empresa construtora da ferrovia 15 km de terra nos dois lados dos trilhos, desconsiderando os moradores e declarando nulos os títulos de posse. Os que vieram de fora para trabalhar na construção alteraram o perfil humano, favorecendo o banditismo e a corrupção de costumes. Freqüente era a passagem de monges e beatos pelo sertão catarinense: percorriam as estradas que levavam de São Paulo ao Rio Grande, passando por Lages. Eram conselheiros, plantavam cruzes, benziam, davam receitas, organizavam novenas. O povo, mal assistido religiosamente, os recebia como santos e sacerdotes. João Maria de Jesus, é um deles. Surgido depois de 1890, será o mais famoso, pois esteve envolvido na guerra do Contestado. Ele organizou uma comunidade religiosa que reagiu contra a situação de injustiça vigente no meio-oeste catarinense. O primeiro ato praticado pelos revoltosos era a queima dos cartórios, em protesto contra as escrituras que davam a outros as terras deles roubadas. Simbolizava também a negação da necessidade de qualquer documento na nova comunidade. João Maria estruturou uma vida comunitária com locais de culto, procissões... Tudo pertencia a todos e nada podia ser vendido, apenas trocado. Pregava-se o milenarismo: o mundo não duraria mais 1000 anos e o paraíso estava próximo. Ninguém tinha medo de morrer, pois ressuscitaria após o combate final. Para o governo, João Maria organizou uma escolta de 24 caboclos, os Doze Pares de França. Mulheres desempenhavam um papel muito importante, dando-se grande valor à virgindade. Os redutos sertanejos compreendiam mais de 20 mil pessoas, das quais 8 mil preparadas militar e religiosamente para o combate. Diante da situação, os coronéis se desentendem e explode uma guerra violenta que durou de 1912 a 1916, envolvendo 6 mil soldados, mil vaqueanos e deixando o saldo trágico de 3 mil mortos. Até avião foi utilizado. Os caboclos não estavam preocupados com os limites do PR e SC, devido a uma região contestada, mas queriam viver com justiça. No bilhete de um caboclo estava escrito: "Nós tratava de nossas devoções e nem matava e nem roubava, mas veio o governo da República e tocou os filho brasilêro dos terrenos que pertencia à Nação e vendeu tudo para os estrangeiro. Nóis agora estamos disposto a fazer prevalecer nossos dereitos..." O Contestado foi uma das mais cruéis guerras acontecidas no Brasil, envolvendo um caldeirão de motivações: religião, política, grilagem, desemprego, banditismo, miséria, enfim, como em Canudos, o povo pobre que queria viver. Em cinco anos de guerra, 9 mil casas foram queimadas e 20 mil pessoas mortas.

Trigésimo Quadro de Quarenta - CABOCLO PARDO

Nome do quadro: CABOCLO PARDO OBRA INSPIRADA NO TRABALHO DO ARTISTA WILLI ZUMBLICK Queremos que se faça justiça aos Homens do Contestado - nossa população - depois que se saiba mais sobre seus envolvimentos nos acontecimentos do passado, sobre suas idéias, razões e motivações, sobre seus comprometimentos e sua práxis na história e, ainda, que se alcance a compreensão dos seus gestos, atitudes e manifestações na busca de alimento espiritual e na procura de satisfação às suas necessidades sociais. Queremos trazer à luz novos argumentos para auxiliar a compreensão das manifestações da nossa gente, a partir das raízes do seu sentimento social e religioso, observados nas maneiras de pensar, sentir e agir dos habitantes da Região do Contestado. O catolicismo popular, (tradicional) em suas diferentes manifestações históricas, esteve sempre bastante próximo dos cultos africanos e ameríndios, gerando não poucas vezes expressões religiosas que podem ser consideradas como verdadeiro sincretismo religioso. A partir do século passado o culto popular católico sofreu também influência do espiritismo e do protestantismo. Deste modo, não é raro encontrar católicos que freqüentam a umbanda, o espiritismo ou assembléias protestantes (AZZI, 1978, p. 11). A Igreja Católica mantinha paróquias nas únicas poucas cidades catarinenses existentes no Contestado no início do século, em Lages, Curitibanos, Campos Novos e Canoinhas e, nas cidades paranaenses de União da Vitória, Rio Negro e Palmas, com um mínimo de padres atendendo os fiéis em demoradas viagens pelos sertões. Neste quadro de distanciamento entre a hierarquia católica e o rebanho cristão, despontaram na região pessoas “diferentes”, peregrinas e eremitas, algumas consideradas “monges” pela população regional por se exercitarem como pregadoras e curandeiras, outras delas, profetas, visionárias, charlatães ou fanáticas. Em algumas localidades do Planalto Catarinense, entre os caboclos, existiam ainda os “rezadores”, pessoas que se ocupavam das atividades e manifestações religiosas populares nas grandes fazendas.

sábado, 14 de julho de 2012

TEXTO DO DÉCIMO NONO QUADRO - GENOCÍDIO NO CONTESTADO

É neste cenário que insere-se a Guerra do Contestado... Aproximadamente seis mil pessoas foram mortas no sertão do Estado de Santa Catarina, entre dezembro de 1913 e janeiro de 1916. Após quase três anos conflituosos, cerca de nove mil militares e civis, entre mortos, feridos, desaparecidos e desertores, deram baixa nos campos de batalha da Guerra do Contestado, um dos mais sangrentos episódios da História do Brasil, que manchou com sangue uma área de 15.000 km, então habitada por menos de 50 mil pessoas. No auge do conflito, entre o final de 1914 e o início de 1915, estavam em ação 8.000 militares, sendo 7.000 soldados das armas da Infantaria, Cavalaria, Artilharia e Engenharia do Exército Brasileiro, do Regimento de Segurança do Paraná, do Regimento de Segurança de Santa Catarina, mais 1.000 civis regionais contratados pela União. O inimigo: Exército Encantado de São Sebastião, informal, com 10.000 combatentes, entre homens, mulheres, idosos e crianças, na maioria caboclos luso-brasileiros, armados com revólveres, espingardas e facões. A Guerra do Contestado foi o evento bélico mais importante da História de Santa Catarina, envolvendo a população sertaneja de um lado e forças militares nacionais e estaduais do outro. O evento, que aconteceu em terras administradas por Santa Catarina e leste do Rio do Peixe, é definido por estudiosos como “insurreição xucra” ou “guerra civil”; para religiosos, ocorreu uma “rebelião de fanáticos”; para sociólogos, houve um “conflito social”; para antropólogos, foi um “movimento messiânico”; para políticos, uma tentativa de desestabilização das oligarquias; para administradores públicos, aconteceu uma “questão de limites”; para militares, tratou-se de uma “campanha militar”; para socialistas, aconteceu uma “luta pela terra”. Dois mil e doze é o ano do Centenário do acontecimento histórico da Guerra do Contestado, não temos muito a comemorar, a guerra, com duração de quatros anos, ceifou tragicamente, cerca de sete mil sertanejos. A Guerra do Contestado é um episódio complexo, pois é alimentado por vários fatores que se entrelaçam, sejam de ordem social, política, econômica, cultural, sejam de ordem religiosa. Passado 100 anos desse grande genocídio vê-se necessário trazer reflexões sobre a Guerra do Contestado, haja visto que o assunto em pauta venha sendo discutido por alguns educadores e estudantes, o que tem contribuído para uma compreensão real dos fatos ocorridos neste período. Com isso vê-sê a necessidade de um debate contemporâneo juntos aos alunos no que diz respeito às conseqüências ainda hoje vivenciadas neste fractal do sul do Brasil. Essa guerra, acontecida entre 1912 e 1916 na região fronteiriça entre Paraná e Santa Catarina, foi um conflito armado travado entre a população cabocla do local e as forças policiais dos dois estados e contingentes do exército brasileiro. É um episódio pouco conhecido da História do Brasil, mas que deixou mais de 8.000 mortos entre as forças militares que foram mandadas contra os rebeldes e praticamente dizimou a população da região, constituida principalmene de caboclos analfabetos e mal armados. Em tudo isso, como em Canudos, duas décadas antes, foi a miséria e a ignorância, reforçada pelo fanatismo religioso que levou os caboclos à revolta. Mas novamente, em tudo isso, é a injustiça de um sistema e a ganância dos poderosos, o principal motor da revolução. Quando a miséria é combatida com canhões, ao invés de comida, e a ignorância é reprimida com a força ao invés de educação, o que sobra é a violência e a guerra. E como a História sempre é escrita pelos vencedores, os verdadeiros motivos dos grandes genocídios ficam sempre ocultos nas sombras. A Guerra do Contestado foi um desses conflitos, onde um governo autocrata, injusto e caolho em relação a toda responsabilidade social, preferiu massacrar uma população ao invés de ajudá-la a superar a miséria econômica, social e intelectual em que viviam. Como em Canudos, essa é mais uma nódoa que pode ser atribuída á jovem república de coronéis e fazendeiros que o Marechal Deodoro proclamou.

Vigésimo Nono Quadro de Quarenta - GENOC[IDIO NO CONTESTADO

Vigésimo Oitavo Quadro de Quarenta - MONGE JOÃO MARIA DE JESUS

Conhecido por João Maria de Jesus, segundo monge que peregrinou no sertão contestado entre 1890 a 1895. Após a morte de João Maria d’Agostini, surgiu um segundo monge: João Maria de Jesus. Seu verdadeiro nome era Anastás Marcaf, o qual chegou à cidade da lapa com as tropas de Gumercindo Saraiva, durante a Revolução Federalista, em 1894. Imitou o primeiro monge em tudo: no traje, no barrete, no modo de vida, etc. Era de índole pacífica e nunca fez mal a ninguém, nem procurou afastar qualquer pessoa do catolicismo, porém seguia sua própria orientação. Solicitado que foi numa ocasião a assistir uma missa, retrucou asperamente: “Minha reza vale tanto quanto uma missa” e não assistiu.

Vigésimo Sétimo Quadro de Quarenta - RETIRADA DE DORMENTOS

Os caboclos retiravam os dormentos da linha de trem para impossibilitar a passagem.

VIVA A NOSSA CAMISETA DO CONTESTADO!!!

Vigésimo Sexto Quadro de Quarenta - FÉ, CONFLITO e CULTURA

A NOSSA CAMISETA DO CONTESTADO FICOU LINDINHA. NÓS COLOCAMOS O MONGE REPRESENTANDO A FÉ. COLOCAMOS UMA CENA DO CONFLITO ENTRE CABOCLOS E MILITARES. COLOCAMOS UM ACADÊMICO ENVOLTO NA BANDEIRA DA ESCOLA ANTONIO GONZAGA, REPRESENTANDO A CULTURA REGIONAL.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

SDR Canoinhas realiza exposição “A Arte que vem do Lixo”

SDR Canoinhas realiza exposição “A Arte que vem do Lixo” Por Sérgio Teixeira da Silva – SDR Canoinhas Seg, 18 de Junho de 2012 17:56 Continua nessa semana, a exposição de Artes realizada pela SDR Canoinhas. A partir dessa segunda (18), a exposição vai apresentar trabalhos dos alunos e professores da Escola de Educação Básica Antônio Gonzaga, do município de Porto União. Denominada “A arte que vem do lixo”, as telas são inspiradas nas obras de Vick Muniz, artista plástico brasileiro, radicado em Nova York, que faz experimentos com novas mídias e materiais. Os quadros foram trabalhados de forma extracurricular com a professora da instituição, Nadia Maltauro Ayoub. Segundo o gerente de Turismo, Cultura e Esporte da SDR Canoinhas, Antônio Gilberto de Carvalho, a intenção é realizar essas exposições de forma itinerante, nos municípios da região. “Esses belos trabalhos devem ser apresentados para mais pessoas. Estamos entrando em contato com as prefeituras para levar os quadros nos outros municípios também”, ressalta. O gerente ainda destaca que a partir do dia 25, os quadros do “Acervo Pedagógico sobre a Guerra do Contestado” estarão em exposição no Serviço Social do Comércio (Sesc) de Canoinhas. A exposição iniciou nesta segunda-feira, dia 18, e segue até sexta-feira (22). A entrada é gratuita e aberta a toda comunidade, instituições e escolas da região. A exposição acontece no Museu de Artes de Canoinhas (MAC), localizada a Rua Getúlio Vargas, próximo ao prédio da Fundação Cultural de Canoinhas, aberto das 08h as 12h e das 13h as 18h. Para obter mais informações, os interessados podem ligar no telefone (47) 3627-4024. Exposição sobre a Guerra do Contestado recebe mais de 500 visitas Durante toda semana passada, a SDR Canoinhas realizou também a exposição do “Acervo Pedagógico sobre a Guerra do Contestado”. Na exposição foram apresentadas telas pintadas a óleo, com cenas do cotidiano através de resgate cultural dos 100 anos da Guerra do Contestado. No total, 23 quadros foram expostos. Participaram das visitas mais de 500 pessoas da comunidade e das EEBs João José de Souza Cabral, EEB Santa Cruz e EBM Presidente Castelo Branco, de Canoinhas. Alunos da EEB do Campo Professor Eugênio de Almeida, do município de São Mateus do Sul, Paraná, também visitaram as obras. E ainda, os usuários e equipe do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Canoinhas, também prestigiaram a exposição.

Exposição no MUSEU DE ARTES DE CANOINHAS - MAC

Exposição de telas "100 anos de Contestado" •

Exposição de telas "100 anos de Contestado" • • PROJETO "ACERVO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO SOBRE A GUERRA DO CONTESTADO" A Escola de Educação Básica Antonio Gonzaga do Bairro Santa Rosa, município de Porto União (SC) prepara-se para comemorar os 100 anos do Contestado realizando o Projeto "Acervo Pedagógico para o Ensino sobre a Guerra do Contestado" - Arte e emoção na transposição da história contada para a arte figurativa. O trabalho fundamenta-se na elaboração de 40 quadros alusivos à História da Guerra representando cenas inéditas sobre o cotidiano da época da Guerra do Contestado. Sob a coordenação da Professora de Matemática, Sra Nadia Maria Maltauro Ayub já estão prontos 23 quadros de um metro quadrado representando várias cenas e vultos históricos. Acompanhando cada quadro existe o texto explicativo para que o professor (a) possa trabalhar em sala de aula, como: homenagem a Maria Rosa – jovem que liderava as guerrilhas; homenagem a Chica Pelego – cuidava dos feridos e doentes; homenagem a Ana Paes – costurava e bordava as bandeiras dos fanáticos; demonstração da crueldade – incêndio e matança de gente; painéis com registros históricos da Guerra do Contestado. De acordo com diretora Celia Bobrowicz "É importante que os estudantes observem um determinado tema, admirem, comentem, coloquem-se no lugar do outro e realizem a comparação entre o passado e o presente. É neste ponto que a "arte" pode emocionar, para que por meio do desenvolvimento do senso crítico durante as comparações realizadas, desabroche a consciência, para que sejam agentes atuantes e participativos num futuro melhor para todos. vamos fazer uma série de atividades especiais alusivas aos 100 Anos do Contestado, com objetivo de marcar a data e valorizar a história de Porto União e região; do nosso povo. Esse é um momento de homenagem e resgatar a nossa cultura". Conforme o projeto a escola está se preparando para resgatar a história e valorizar as raízes da comunidade quando houver a primeira exposição dos quadros. Na ocasião, cada quadro estará representado por alunos da escola, vestidos com as mesmas roupas das pessoas que estão nas telas. Além disso a escola está juntando objetos antigos similares aos que estão nos quadros, para comporem os cenários com as crianças. Desta forma pretende-se ensinar sobre a Guerra do Contestado às crianças de forma lúdica fazendo com que a arte da tela adquira vida com as respectivas cenas dos quadros representadas em cenários reais. Juliana Brittes Kamiensky, diretora da escola, relata sobre os muitos ensinamentos de ética, respeito, natureza, do bom relacionamento entre os seres humanos, que podem ocorrer concomitantemente ao ensino sobre a Guerra do Contestado: "Praticar arte não significa nascer artista, mas significa querer, sonhar e ter oportunidade. Todas as pessoas são capazes, desde que se emocionem. A nossa região pode ser considerada um berço cultural para representação artística, desde a sua história aos recursos naturais existentes. Pode-se levar os alunos da Educação Básica ao desenvolvimento da sensibilidade artística, construindo trabalhos relacionados desde a colonização, no período da Guerra, até as condições atuais de progresso". A forma como se está trabalhando com os alunos é impulsionando a comunidade para que a Escola de Educação Básica Antonio Gonzaga promova o resgate documental, a revisão histórica da Guerra do Contestado e a identificação do Homem do Contestado - caboclo, através de um grande projeto histórico-cultural que reúna depoimentos de historiadores, sociólogos, pesquisadores, folcloristas, músicos e artistas. As crianças estão sendo orientadas sobre como colocar na tela, a pintura do expressionismo místico marcante, as paisagens, os costumes e tradições, a índole guerreira e a fé pura do homem do Contestado. Para tanto buscou-se inspiração em artistas como Willi Zumblick, Eliziane Buch, Almeida Júnior e outros. A priori os alunos colorem os painéis com canetas hidrocor e tinta guache. Posteriormente é utilizada tinta acrílica para retoques. O principal desafio é possibilitar aos estudantes a oportunidade de perceber que a arte é inerente à vida, ou seja, mesmo quando se pensa que não se é capaz de realizar algo, pode acontecer o contrário, desde que haja o incentivo, apoio e afetividade no ato de ensinar. A valorização do ser humano é o preceito principal da escola. São coletados objetos antigos utilizados na época da Guerra do Contestado (chaleiras, bules, talheres, celas, facas, facões, espadas, armas de fogo, bolsas para munição, canhões, utensílios domésticos e outros). Tais objetos serão representados nas telas e também utilizados em período de exposições, compondo cenários vivos, reais, saídos da tela. Estão sendo providenciados os trajes das pessoas que estão nos quadros, para que possam ser vestidos por educandos no período de composição dos cenários que estão representados nas obras de arte. Os principais temas que estão representados nas obras de arte são os seguintes: vultos históricos do Contestado, retratos de vida da geração matuta que provocou o Contestado", índios xoklengs e kaigangs, antigos caboclos (miscigenação de portugueses, espanhóis, kaigangs e xoklengs), ferrovia, fazendeiros, detentores de sesmarias, religiosidade (messianismo, misticismo e fanatismo), gaúchos, imigrantes (norte-americanos, ingleses, franceses, portugueses, espanhóis, suíços, austríacos, holandeses, russos, austríacos, poloneses, ucranianos, alemães, sírios, libaneses, africanos, ciganos, japoneses), integrantes de bugreiros, caçadores de índios, combatentes da Guerra do Paraguai, desertores das tropas da Revolução Federalista, coronéis e bendegós. Confira informações no link abaixo www.tracosdealma.blogspot.com

Alunos expõem pinturas sobre Guerra do Contestado, em Canoinhas

Alunos expõem pinturas sobre Guerra do Contestado, em Canoinhas Trabalho dos alunos da escola Escola de Educação Básica Antônio Gonzaga, de Porto União, reúne 23 quadros O trabalho já foi apresentado em Porto União e seguiu para Canoinhas nesta segunda-feira, 11. A exposição do "Acervo Pedagógico sobre a Guerra do Contestado", dos alunos do ensino fundamental da Escola de Educação Básica Antônio Gonzaga, de Porto União-SC, é um trabalho extracurricular coordenado pela professora Nadia Maltauro Ayoub. Telas pintadas a óleo, com cenas do cotidiano através de resgate cultural dos 100 anos da Guerra do Contestado. A exposição se encontra no Museu de Artes de Canoinhas (MAC) até 15 de junho, das 8h às 12h e das 13h às 18h. Na próxima semana também serão apresentados trabalhos dos alunos e professores, denominado "A arte que vem do lixo", que também iniciou em Porto União, com telas inspiradas nas obras do artista plástico brasileiro, Vick Muniz

EXPOSIÇÃO DO DIA 09/07/2012 EM TRÊS BARRAS

EXPOSIÇÃO DO DIA 09/07/2012 EM TRÊS BARRAS!! FOI MUITO LEGAL. OS ALUNOS ELIANE E DANIEL REPRESENTARAM MUITO BEM A NOSSA ESCOLA. E AINDA CONHECEMOS O "AUGUSTOS" - GRANDE ARTISTA DE CANOINHAS!!! FOI UM PRESENTE PARA VIDA DA GENTE!!!

Vigésimo Quinto Quadro de Quarenta - MORTE AO DRAGÃO

Morte ao dragão A devoção era total; Quando contrariado, o "monge" ameaçava ir para os céus e gritava: "Eu vou voar". Os crentes imploravam para que permanecesse entre eles, agarravam sua roupa. E José Maria ficava. Não havia limites para a adoração. Um jovem, por exemplo, que pretendia ser um par da França, pediu ao "monge" que o aceitasse e recebeu a seguinte missão: "Traga cinqüenta orelhas de peludos". A mãe do jovem intercedeu, propondo que seu filho matasse o "dragão que aterroriza o sertão". José Maria concordou. O jovem partiu a cavalo. Durante meses, percorreu o sertão á procura do dragão de fogo. Cansado, faminto, enfim encontrou o rastro do dragão. Satisfeito, iniciou a derradeira perseguição. À noite, enfim colocou-se diante do animal. O dragão vinha veloz em sua direção. Ele preparou a espada, firmou-se na sela e lançou-se no escuro: o trem passou por cima de seu frágil corpo. Todas essas histórias de fanatismo preocupavam as autoridades da região e do país. O "monge" e sua gente foram expulsos de Taquarussu e, em pouco tempo, montaram novamente a monarquia em Irani, que ficava ao sul do Município de Palmas. O Governo do Paraná, suspeitando que José Maria estava a serviço de Santa Catarina, mandou um destacamento de quatrocentos homens, comandados pelo capitão João Gualberto, dispersar os fanáticos ou prendê-los. Foi o primeiro combate. João Gualberto morreu. José Maria também. A primeira parte da profecia estava cumprida. Em um ano, o "monge" voltaria para liderar o advento do império santo. A república seria abolida e surgiria em todo o mundo a monarquia, que significa a lei de Deus.