segunda-feira, 9 de abril de 2012

Quarto quadro de 40 - AS CHEIAS E A LENDA DA COBRA





João Maria e as cheias de Porto União



Quando esteve na cidade em 1896, São João Maria plantou uma cruz no alto de um morro. Previu que se um dia ela caísse, o rio Iguaçu subiria de nível e inundaria a cidade. Dias antes das enchentes de julho de 1983, a cruz tombou de lado, sem chegar a cair. Foi o suficiente para que a população realizasse procissões até o morro da Cruz, mas isso não bastou: a chuva engrossou e as águas cobriram a cidade. Só ficaria de fora, segundo a profecia, a residência do coronel Amazonas Marcondes. Era um homem bom e quedaria a salvo. E foi o que aconteceu. A casa ainda existe. Confira abaixo as fotos que fiz da enchente de 1983, quase todas a bordo de um helicóptero da Aeronáutica que atendia os flagelados. E outras imagens. Há também o relato de Cleto da Silva sobre a presença de João Maria em Porto União/União da Vitória - a cidade era uma só, mas foi dividida após o fim da guerra do Contestado.
Porto União, 1896
“[...] passa por União da Vitória o mui falado profeta João Maria1,’São João Maria’, como costumam os sertanejos dizer.
É um ancião de estatura regular, alourado, tendo o sotaque de espanhol.
João Maria diz andar cumprindo uma promessa, pelo que peregrinava há muito tempo, porém que brevemente te-la-á terminado.
Aconselha aos sertanejos que plantem bastante. Não gosta de ser acompanhado por grupos.

Carrega a tiracolo um saco de algodão e, dentro dele, uma barraca pequena e uma panelinha.
Traz consigo um crucifixo e outras pequenas imagens de santos.
Costuma pousar à beira dos caminhos, procurando local de boa água.
Depois que o profeta deixa o pouso, os moradores da vizinhança fazem um cercadinho ao redor da fonte, que se torna dali em diante, para eles milagrosa, pois piamente acreditam ser João Maria um santo.
O profeta não aceita dinheiro: contenta-se quando lhe oferecem alguma verdura, um pedaço de queijo ou um pouco de leite.
Pouco se demora nas comunidades.
Aconselha a que tenha o povo bastante crença em Deus e que trabalhe para desviar as más tentações.
João Maria, pacífico monge, tão popular nos sertões do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás, aconselhou aos moradores de União da Vitória, a que plantassem uma cruz no morro mais alto da cidade, que é o chamado ‘Morro da Cruz’2.
Efetivamente essa cruz (uma grande cruz de madeira) ali colocada há muitos anos; depois outra foi substituída e ainda uma outra de cimento foi naquele morro plantada pela família Savi.
De quando em quando, os devotos galgam o cume do Morro e ali rezam, fazem suas promessas e acendem velas.

Ficou esse profeta consagrado pelos antigos habitantes de União da Vitória, por cuja localidade passou ele várias vezes; mesmo entre pessoas cultas tem o profeta grande veneração.
Lendas se fizeram em torno da personalidade do ‘seu’ João Maria, as mais interessantes e todas cheias de misticismo religioso.
Há quem narre as muitas profecias feitas pelo velho peregrino, algumas das quais, dizem, se realizaram.
Damos o retrato do benquisto monge que, nos garantiram pessoas que o conheceram, ser verdadeiro.
1 Não confundir o profeta João Maria com o célebre ‘monge’ José Maria, do Irani.
2 O morro da Cruz tem a altitude de 943 metros sobre o nível do mar".





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