segunda-feira, 9 de abril de 2012

Nono quadro de 40 - A MORTE DE MARIA ROSA







A  MORTE DE MARIA ROSA
Maria Rosa é como ficou conhecida a personagem brasileira que foi uma das líderes da Guerra do Contestado (1912-1916).

Dizem os historiadores que, com apenas 15 anos, Maria Rosa lutou como homem nesta guerra. Considerada como uma Joana D'Arc do sertão.

A personalidade da adolescente torna a vida no reduto de Caraguatá dinâmica, quando consegue a adesão do juiz de paz, do subdelegado do distrito e de quase todos os habitantes de São Sebastião das Perdizes, proximidades de Caraguatá.

O sorriso permanente e o porte esbelto, marcam a presença da jovem em qualquer ambiente. Já nos momentos de tomar decisão, ela assume a postura de uma estrategista, demonstrando conhecimentos muito superiores à idade e ao nível cultural em que vive.

Assumiu a liderança espiritual e militar dos revoltosos do Contestado, no reduto de Caraguatá, após a destruição do reduto de Taquarussu. Montada em seu cavalo, ia á frente dos jagunços. Trazia uma espingarda na sela e uma espadana cinta. Muitas flores nos cabelos, um longo vestido branco, até os pés. Seu cavalo branco tinha arreios de veludo. Liderou as tropas contra os soldados de Santa Catarina. Causou pavor. Seus homens imbatíveis eram ágeis na mata. A essa época já existia, no conflito caboclo do Contestado, trinta redutos com 6 mil homens armados. As tropas federais entraram em ação. Foi enviado o general Setembrino de Carvalho à frente de 7 mil homens, que significava em torno de 80% do exército brasileiro. Recorreram até mesmo a aviões, chamados pelos jagunços de "gaviões voadores". A violência explodiu no Contestado. A virgem Maria Rosa mandou "limpar" as cidades vizinhas a fim de purificar o ambiente para a volta do "monge". Então os jagunços passaram a saquear e matar sertanejos pacíficos. Os soldados davam cabo do que sobrava: violavam mulheres, atacavam casas.

Maria Rosa morreu em 28 de Março de 1915, da vila de Reinchardt, lutando contra o capitão Tertuliano Potyguara e um efetivo de cerca de 710 homens. Maria Rosa morreu às margens do rio Caçador.

Maria Rosa, uma "virgem" bonita, era a líder espiritual de um reduto sertanejo no planalto catarinense chamado Caraguatá, palco de um dos combates mais ferozes da Guerra do Contestado. O saldo foi de 24 mortos, 21 feridos e 3 desaparecidos nas tropas oficiais, e 37 mortos entre os defensores do reduto. Deve ter sido dela a idéia de usar táticas inspiradas em traquinagens adolescentes, que se mostraram decisivas para a expulsão do inimigo e por isso ecoaram pelo planalto como proezas de batalha. "Durante a refrega, os sertanejos empregaram todos os seus ardis de lutadores do mato. Uma coluna de sertanejos vestidos com roupas de mulheres distraía os soldados, enquanto vários franco-atiradores, escondidos em ocos de imbuias e em galhos elevados de araucária, dizimavam a coluna militar. (...) Soldados eram atraídos, por determinados caminhos, para o interior da mata e emboscados em locais sem saída, cheios de espinheiros de inhapindaí", escreve Paulo Pinheiro Machado, no livro Lideranças do Contestado, lançado pela Editora da Unicamp (2004)..

Logo após ter sido destruído, à bala e a fogo, no segun­do combate, o reduto de Taquaruçu, os que conseguiram sobreviver e fugir, se juntaram no novo reduto de Caraguatá, que era liderado por Maria Rosa. Nesse reduto, Joaquim perdeu seu prestígio, ficando na sombra de Maria Rosa, que a todos cativava. Ela “[...] toma parte, montada em seu cavalo, empunhando a bandeira branca de cruz verde ao centro, infundindo ânimo e coragem aos ser­tanejos.” (VALENTINI, 1998, p. 136, 137). Maria Rosa era filha de Elias de Souza, lavrador da Serra da Esperança. Ela era considerada uma menina normal como as demais, mas de vez em quando se trancava em seu quarto e ficava até dois ou três dias em oração. Ao voltar para a vida normal, trazia comandos e orientação do monge José Maria, para o povo obedecer. A virgem Maria Rosa é a figura feminina de maior destaque, especialmente nos primeiros dois anos da guerra. Segundo Vinhas de Queiroz (1977, p. 151) era ela que “[...] durante as procissões marchava à frente, carregando uma grande bandeira com cruz verde.” Ela era uma menina-moça, carismática, capaz de atrair a atenção de todos, falava desembaraçadamente, e eram-lhes atribuídas qualidades excepcionais como vi­dente e comandante. Dificilmente alguém fazia algo sem antes consultar ‘quem tudo sabia’.” (FELIPPE, 1995, p. 55). Vinhas de Queiroz (1977, p. 151) também escreve que o povo a considerava santa e cumpria religiosamente as ordens que dela emanavam. “Era encarada como a representante da vontade do monge, de quem conhecia os secretos desejos. Designava os chefes ostensivos, destituía-os dos comandos, sentenciava.” Maria Rosa foi contemplada com o título de um capítulo do livro de Vinhas de Queiroz (1977, p. 151), o qual trata dela como sendo uma adolescente dos seus 15 anos, loura, cabelos crespos, pálida, alegre, de extraordinária vivacidade, que não sabia ler nem escrever, mas falava com desembaraço; sendo o seu pai chamado de Elias da Serra, um lavrador da região. Machado (2004, p. 222) lembra de Maria Rosa, como sendo uma moça que

[...] tinha entre 15 e 16 anos, era bonita e andava de roupa branca, mon­tada num cavalo branco. Como “virgem”, procurou manter um comando direto sobre os “pares de França” e o conjunto da população de Caraguatá. Contudo, é ela que começa a distribuir comandos específicos, de forma, de guardas, de piquetes de briga, de reza e de abastecimento. O combate de Caraguatá [...] vencido pelos “pelados”, é considerado pela memória local o principal feito de Maria Rosa.

Havia várias tendências ou facções dentro do movimento do Contestado. Após a vitória de Caraguatá, vários líderes resolveram derrubar Maria Rosa do comando para que outros líderes mais aguerridos, passassem ao comando. Foi assim que Francisco Alonso de Souza, conhecido como Chiquinho Alonso as­sumiu o comando geral e Maria Rosa passou a exercer um papel secundário no conflito, ajudando no atendimento às pessoas doentes, crianças, mulheres e ido­sos. Chiquinho Alonso é um rapaz de uns 25 anos, que teria se proclamado a si próprio ante o povo como comandante geral e que a partir de então a Maria Rosa teria dito: “[...] atendam ele. Eu não tenho mais nada com isso” (VINHAS DE QUEIROZ, 1977, p. 163, 164). Esse novo comandante, filho de Manoel Alonso, homem trabalhador, andava “[...] com aquela cisma que iria brigar muito.” (VI­NHAS DE QUEIROZ, 1977, p. 164);

Maria Rosa permanecia trancada em um quarto, do qual só saia para transmitir as ordens que teria recebido de João Maria. Assim a partir do comando geral, ela distribuía ordens e comandos.
Para os sertanejos, a “Virgem” era considerada uma santa e que ela “tudo sabia”. Para eles Maria Rosa representava com fidelidade a vontade do Monge e por isso tinha o poder de destituir, designar e sentenciar.

Lá a “Virgem” Maria Rosa

No reduto é que mandava,

Ninguém mais intrometia

Pois, só ele comandava;

Nomeou todos cabeças

Os que mais considerava.


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