segunda-feira, 9 de abril de 2012

Décimo quarto quadro de 40 - REUNIÃO DOS REBELDES






REUNIÃO DOS REBELDES

A região do Contestado foi largamente percorrida por dois monges, de 1845 a 1908. O primeiro se chamava João Maria D’Agostini, era italiano de origem. Benzia, curava e não fazia ajuntamento de pessoas nem dormia na casa de ninguém. Veneradíssimo batizou milhares de moradores do sul do Brasil. Desapareceu por volta de 1890.
Em seguida surge outro monge, João Maria de Jesus, nome adotado por Anastás Marcaf, turco de origem. Também percorria o sertão benzendo, curando e batizando. Não juntava gente em volta de si, não dormia nas casas, mas atacava a República. Desapareceu por volta de 1908 e, segundo a população de então, “está encantado no Morro do Taió”. É um terceiro monge, entretanto, que vai aglutinar o povo do sertão do Contestado e, de alguma forma, levá-los à guerra. Chamava-se José Maria - seu verdadeiro nome era Miguel Lucena e sugeria ser irmão de João Maria. Benzia, curava, batizava e reunia gente ao seu redor lendo, regularmente, o livro do Rei Carlos Magno e seus Doze Pares de França - com seus ensinamentos de guerra. Atacava duramente as autoridades e a República. Ameaçado pelos coronéis da região do Contestado, o Monge e um grupo de sertanejos deslocaram-se para o Irani, em terras que o Paraná considerava suas, palco do primeiro combate da guerra. A 22 de outubro de 1912, na região denominada Banhado Grande, José Maria e seu grupo são atacados por soldados do Paraná comandados pelo coronel João Gualberto. Morrem o monge e o coronel.

Décimo terceiro quadro de 40 - GUERRA DO CONTESTADO






GUERRA DO CONTESTADO



Área conflagrada: 15.000 km² - População da época envolvida na área de conflito: aproximadamente 40.000 habitantes - Municípios do Paraná, na época: Rio Negro, Itaiópolis, Timbó, Três Barras, União da Vitória e Palmas Municípios de Santa Catarina, na época: Lages, Curitibanos, Campos Novos e Canoinhas - Em 1914, o General Setembrino de Carvalho, enviado do Rio de Janeiro com tropas federais, e juntamente com soldados do Paraná e Santa Catarina, cercaram a região de Santa Maria matando grande número de pessoas; mortandade causada pela fome e epidemia de tifo, que acabou forçando os sertanejos, caboclos a se renderem. Após 4 anos entre conflitos e mortandades, o movimento do Contestado foi desfeito, a fronteira entre os estados foi demarcada e o poder dos latifundiários foi consolidado.




DÉCIMO SEGUNDO QUADRO DE 40 - "SERTANEJOS EM DESCANSO"






SERTANEJOS EM DESCANSO

A guerra camponesa do Contestado não foi uma simples revolta de fanáticos como alguns historiadores procuram nos apresentar. Os sertanejos explorados pelos latifundiários, expulsos de suas terras pelas companhias estrangeiras, as quais o governo havia cedido grandes extensões de terra, reagiram a essa opressão.

Em resumo, podemos afirmar que a miséria, a ignorância e as injustiças sociais fizeraM, eclodir essa guerra que teve um fim trágico, com o massacre de milhares de camponeses (10.000 mortos).

A região em que houve o conflito era chamada de área contestada, devido aos litígios de limites entre os estados do Paraná e Santa Catarina. Porém, a guerra foi a revolta dos sertanejos da região contra o governo, as companhias estrangeiras e as oligarquias locais e não um conflito entre os estados do Paraná e Santa Catarina.

No sertão, os monges (figuras estranhas que levavam uma vida ascética) tinham grande prestígio. Em 1912, o monge José Maria d'Agostini, seguido pelos sertanejos que haviam sido expulsos de suas terras pelo "Brazil Railway Company", a quem o governo havia concebido nove quilômetros de cada lado da estrada de ferro, que está companhia norte-americana estava construindo na região contestada, rumou para os campos do Irani em território paranaense.

Neste ano tivemos o combate do Irani, onde os seguidores do monge José Maria enfrentaram as tropas do coronel paranaense João Gualberto. Nesse combate, José Maria e João Gualberto faleceram. Após a morte do monte, os sertanejos radicalizaram suas posições, desencadeando uma verdadeira guerra civil.

No auge do movimento, o território ocupado pelos sertanejos compreendia 28.000 quilômetros quadrados. A população oscilava em torno de 20 a 30 mil fanáticos, espalhados nos vários redutos. A revolta dos sertanejos era total: fazendas eram atacadas e saqueadas, os inimigos da fé eram mortos. Inclusive um escritório da "Lumber Company" foi atacado. A posse da terra era o principal motivo da revolta, segundo um sertanejo: "O governo da República toca os filhos brasileiros dos terrenos que pertencem à nação e os vende para o estrangeiro".

No reduto, predominava a divisão por igual dos alimentos e de outros meios de subsistência, conforme as pesquisas de Maurício Vinhas Queiroz. "Do que um comia, tudo tinha que comer, do que um bebia, tudo tinha que beber, todos eram irmãos" (Depoimento de Maria). Uma outra testemunha acrescenta: " Ninguém tinha o
direitoAche os cursos e faculdades ideais para você. É fácil e rápido. de vender nada para outro. Se eu precisava de um vestido era dado. Tudo era dado. Se alguém vendia, era morto".

Os sertanejos adoravam táticas de guerrilha, só atacando no momento e locais propícios, daí terem obtido vitórias espetaculares. Diante do fracasso das tropas estaduais, já no governo de Venceslau Brás foi enviada uma poderosa expedição, formada por 8.000 homens sob o comando do General Setembrino de Carvalho. Depois de sitiada a região, os sertanejos foram vencidos pela fome e superioridade das forças federais.

Décimo primeiro quadro de 40 - REGIÃO DA GUERRA








Alguns antecedentes da Guerra do Contestado



Ação judicial de Santa Catarina contra o Paraná em 1900, por limites.

Construção da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, de 1908 a 1910.

Instalação da Southern Brazil Lumber & Colonization em Calmon (1908) e em Três Barras (1912).

Disputas eleitorais entre os coronéis da região pelos domínios políticos nos municípios.

Religiosidade: Messianismo, misticismo e fanatismo da população cabocla.

Ideologia Nacionalista – Civilismo na República – Reestruturação do Exército.

A Brazil Railway – empresa responsável pela construção e funcionamento da estrada de ferro São Paulo- Rio Grande - recebeu a concessão para exploração de até 15 quilômetros para cada lado da estrada. O intuito era a exploração da madeira e a colonização. Para fazer valer o contrato, a empresa iniciou a expulsão dos agricultores e caboclos (grande parte destes não possuíam título de propriedade das terras) que viviam basicamente dos ervais que estavam sendo destruídos pela madeireira da Brazil Railway, a Southern Brazil Lumber and Colonization Company. Assim os problemas já existentes na região foram intensificados pela ação da Brazil Railway.







A maioria da população da Região do Contestado era formada por uma população cabocla, pobre e inculta, de índios, negros e lusobrasileiros que, ao longo dos anos, havia se internado nos sertões e nos campos e vivia do cultivo de roças, criação de porcos selvagens, extração da erva-mate, tropeirismo de carga e trabalhava nas fazendas de criação de gado como peões ou agregados.

A forte ascendência portuguesa dos caboclos abrigava a crença importada do sebastianismo lusitano. Assim, a população revelava expressões de messianismo e de muito misticismo. Diante da ausência praticamente total da Igreja Católica, os sertanejos buscaram conforto espiritual nos monges, profetas, curandeiros, pregadores e eremitas, que peregrinavam pela região, dentre eles destacando-se dois, de nomes João Maria de Agostinho e João Maria de Jesus.


Décimo quadro de 40 -PELUDOS CONTRA PELADOS






Guerra do Contestado: Pelados x Peludos




A Guerra do Contestado foi um conflito armado que ocorreu na região sul do Brasil, entre outubro de 1912 e agosto de 1916. O conflito envolveu cerca de 20 mil camponeses que enfrentaram forças militares dos poderes federal e estadual. Os conflitos ocorrem numa área de disputa territorial entre os estados do Paraná e Santa Catarina, onde ambos os estados contestavam o direito de posse das terras, sendo essa a origem do nome pelo qual a região e consequentemente a guerra ficaram conhecidas: CONTESTADO

Foram muitas às causas que deram origem a Guerra do Contestado, entre as principais pode-se levantar a questão dos limites entre Paraná e Santa Catarina. Quem mais sofria com essa situação era a população. Havia mudanças contínuas de autoridades dos dois estados, contratos e casamentos eram cancelados e impostos eram cobrados pelos dois estados. Existia ainda: grilagem de terras por parte dos grandes proprietários sobre os pequenos sitiantes e posseiros; opressão, mandos e desmandos dos Coronéis; e ainda a ação violenta da Brazil Railway.

Nono quadro de 40 - A MORTE DE MARIA ROSA







A  MORTE DE MARIA ROSA
Maria Rosa é como ficou conhecida a personagem brasileira que foi uma das líderes da Guerra do Contestado (1912-1916).

Dizem os historiadores que, com apenas 15 anos, Maria Rosa lutou como homem nesta guerra. Considerada como uma Joana D'Arc do sertão.

A personalidade da adolescente torna a vida no reduto de Caraguatá dinâmica, quando consegue a adesão do juiz de paz, do subdelegado do distrito e de quase todos os habitantes de São Sebastião das Perdizes, proximidades de Caraguatá.

O sorriso permanente e o porte esbelto, marcam a presença da jovem em qualquer ambiente. Já nos momentos de tomar decisão, ela assume a postura de uma estrategista, demonstrando conhecimentos muito superiores à idade e ao nível cultural em que vive.

Assumiu a liderança espiritual e militar dos revoltosos do Contestado, no reduto de Caraguatá, após a destruição do reduto de Taquarussu. Montada em seu cavalo, ia á frente dos jagunços. Trazia uma espingarda na sela e uma espadana cinta. Muitas flores nos cabelos, um longo vestido branco, até os pés. Seu cavalo branco tinha arreios de veludo. Liderou as tropas contra os soldados de Santa Catarina. Causou pavor. Seus homens imbatíveis eram ágeis na mata. A essa época já existia, no conflito caboclo do Contestado, trinta redutos com 6 mil homens armados. As tropas federais entraram em ação. Foi enviado o general Setembrino de Carvalho à frente de 7 mil homens, que significava em torno de 80% do exército brasileiro. Recorreram até mesmo a aviões, chamados pelos jagunços de "gaviões voadores". A violência explodiu no Contestado. A virgem Maria Rosa mandou "limpar" as cidades vizinhas a fim de purificar o ambiente para a volta do "monge". Então os jagunços passaram a saquear e matar sertanejos pacíficos. Os soldados davam cabo do que sobrava: violavam mulheres, atacavam casas.

Maria Rosa morreu em 28 de Março de 1915, da vila de Reinchardt, lutando contra o capitão Tertuliano Potyguara e um efetivo de cerca de 710 homens. Maria Rosa morreu às margens do rio Caçador.

Maria Rosa, uma "virgem" bonita, era a líder espiritual de um reduto sertanejo no planalto catarinense chamado Caraguatá, palco de um dos combates mais ferozes da Guerra do Contestado. O saldo foi de 24 mortos, 21 feridos e 3 desaparecidos nas tropas oficiais, e 37 mortos entre os defensores do reduto. Deve ter sido dela a idéia de usar táticas inspiradas em traquinagens adolescentes, que se mostraram decisivas para a expulsão do inimigo e por isso ecoaram pelo planalto como proezas de batalha. "Durante a refrega, os sertanejos empregaram todos os seus ardis de lutadores do mato. Uma coluna de sertanejos vestidos com roupas de mulheres distraía os soldados, enquanto vários franco-atiradores, escondidos em ocos de imbuias e em galhos elevados de araucária, dizimavam a coluna militar. (...) Soldados eram atraídos, por determinados caminhos, para o interior da mata e emboscados em locais sem saída, cheios de espinheiros de inhapindaí", escreve Paulo Pinheiro Machado, no livro Lideranças do Contestado, lançado pela Editora da Unicamp (2004)..

Logo após ter sido destruído, à bala e a fogo, no segun­do combate, o reduto de Taquaruçu, os que conseguiram sobreviver e fugir, se juntaram no novo reduto de Caraguatá, que era liderado por Maria Rosa. Nesse reduto, Joaquim perdeu seu prestígio, ficando na sombra de Maria Rosa, que a todos cativava. Ela “[...] toma parte, montada em seu cavalo, empunhando a bandeira branca de cruz verde ao centro, infundindo ânimo e coragem aos ser­tanejos.” (VALENTINI, 1998, p. 136, 137). Maria Rosa era filha de Elias de Souza, lavrador da Serra da Esperança. Ela era considerada uma menina normal como as demais, mas de vez em quando se trancava em seu quarto e ficava até dois ou três dias em oração. Ao voltar para a vida normal, trazia comandos e orientação do monge José Maria, para o povo obedecer. A virgem Maria Rosa é a figura feminina de maior destaque, especialmente nos primeiros dois anos da guerra. Segundo Vinhas de Queiroz (1977, p. 151) era ela que “[...] durante as procissões marchava à frente, carregando uma grande bandeira com cruz verde.” Ela era uma menina-moça, carismática, capaz de atrair a atenção de todos, falava desembaraçadamente, e eram-lhes atribuídas qualidades excepcionais como vi­dente e comandante. Dificilmente alguém fazia algo sem antes consultar ‘quem tudo sabia’.” (FELIPPE, 1995, p. 55). Vinhas de Queiroz (1977, p. 151) também escreve que o povo a considerava santa e cumpria religiosamente as ordens que dela emanavam. “Era encarada como a representante da vontade do monge, de quem conhecia os secretos desejos. Designava os chefes ostensivos, destituía-os dos comandos, sentenciava.” Maria Rosa foi contemplada com o título de um capítulo do livro de Vinhas de Queiroz (1977, p. 151), o qual trata dela como sendo uma adolescente dos seus 15 anos, loura, cabelos crespos, pálida, alegre, de extraordinária vivacidade, que não sabia ler nem escrever, mas falava com desembaraço; sendo o seu pai chamado de Elias da Serra, um lavrador da região. Machado (2004, p. 222) lembra de Maria Rosa, como sendo uma moça que

[...] tinha entre 15 e 16 anos, era bonita e andava de roupa branca, mon­tada num cavalo branco. Como “virgem”, procurou manter um comando direto sobre os “pares de França” e o conjunto da população de Caraguatá. Contudo, é ela que começa a distribuir comandos específicos, de forma, de guardas, de piquetes de briga, de reza e de abastecimento. O combate de Caraguatá [...] vencido pelos “pelados”, é considerado pela memória local o principal feito de Maria Rosa.

Havia várias tendências ou facções dentro do movimento do Contestado. Após a vitória de Caraguatá, vários líderes resolveram derrubar Maria Rosa do comando para que outros líderes mais aguerridos, passassem ao comando. Foi assim que Francisco Alonso de Souza, conhecido como Chiquinho Alonso as­sumiu o comando geral e Maria Rosa passou a exercer um papel secundário no conflito, ajudando no atendimento às pessoas doentes, crianças, mulheres e ido­sos. Chiquinho Alonso é um rapaz de uns 25 anos, que teria se proclamado a si próprio ante o povo como comandante geral e que a partir de então a Maria Rosa teria dito: “[...] atendam ele. Eu não tenho mais nada com isso” (VINHAS DE QUEIROZ, 1977, p. 163, 164). Esse novo comandante, filho de Manoel Alonso, homem trabalhador, andava “[...] com aquela cisma que iria brigar muito.” (VI­NHAS DE QUEIROZ, 1977, p. 164);

Maria Rosa permanecia trancada em um quarto, do qual só saia para transmitir as ordens que teria recebido de João Maria. Assim a partir do comando geral, ela distribuía ordens e comandos.
Para os sertanejos, a “Virgem” era considerada uma santa e que ela “tudo sabia”. Para eles Maria Rosa representava com fidelidade a vontade do Monge e por isso tinha o poder de destituir, designar e sentenciar.

Lá a “Virgem” Maria Rosa

No reduto é que mandava,

Ninguém mais intrometia

Pois, só ele comandava;

Nomeou todos cabeças

Os que mais considerava.


Oitavo quadro de 40 - MARIA ROSA GUERREIRA







MARIA ROSA  guerreira



Maria Rosa entrou na guerra

Na terra do Contestado,

Levando flores no cabelo

Comandou o povo armado.

Em Caraguatá, a liderança estava dividida entre Elias de Moraes e a “Virgem” Maria Rosa:

[...] uma adolescente dos seus quinze anos, loura, cabelos crespos, pálida, alegre, de extraordinária vivacidade [...].

Diversos foram os feitos de Maria Rosa enquanto “Virgem” e comandante. Dentre eles o Combate de Caraguatá e a Evacuação do reduto. No Combate de Caraguatá, em março de 1914, que é considerado um dos mais violentos da guerra, Maria Rosa atuou como comandante, a batalha foi vencida pelos “pelados” contra os “peludos”.

Caraguatá foi evacuado devido a uma epidemia de tifo. Há ainda outros motivos que teriam servido de incentivo para a mudança. Maria Rosa teria recebido um mensagem de José Maria avisando que as forças policiais voltariam a atacar e por isso era necessário providenciar a mudança dos fiéis.
Assim, a “Virgem” comandou a evacuação e comandou a marcha com mais de duas mil pessoas, além de animais e mantimentos para o reduto de Bom Sossego.

Maria Rosa não sabia ler nem escrever, mas falava sem desembaraço.

Andava amiúde com um vestido Como “Virgem” e comandante, procurou manter o comando sobre os “Pares de França” e os sertanejos.

Diferentemente de Teodora, suas ordens não eram submetidas a um conselho.